domingo, 19 de setembro de 2010

Sobre dor

O QUE É DOR?

O comitê de taxonomia da IASP (International Association for Study of Pain), na sua ultima reunião em 1986, definiu dor como sendo “uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a dano tecidual real, potencial ou descrito em tais termos”.

No entanto, ao longo da história humana, a dor sempre foi considerada como uma resposta sensorial inevitável à lesão tecidual. Outras dimensões da experiência dolorosa como as ligadas ao cognitivo, ao afetivo, ao emocional ou até mesmo ao comportamento, sempre foram deixadas de lado, dando-se ênfase ao caráter sensorial-discriminativo da dor.

Nos últimos anos tem sido feitos grandes avanços na compreensão dos mecanismos dolorosos e nos seus tratamentos. Teorias que tentam desvendar os mistérios que permeiam a dor crônica surgem a todo o momento, na busca de aperfeiçoar os métodos e técnicas utilizadas para tratar pessoas que se queixam de dor.

Atualmente, os mecanismos moleculares e celulares envolvidos nas variadas formas de apresentação da dor, bem como as influências de suas dimensões, vêm sendo alvo de intensas pesquisas. A compreensão destes eventos tem permitido o desenvolvimento de estratégias para o melhor diagnóstico e tratamento dos eventos dolorosos, embora não exista nada estabelecido no que concerne a melhor conduta.

EPIDEMIOLOGIA

Em um estudo de Manoel Jacobsen Teixeira, realizado no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, mostra-se que aproximadamente 13,6 milhões de brasileiros seriam portadores de quadros dolorosos persistentes e intensos, dos quais 50% a 60% seriam de dores crônicas. Nesse estudo as dores mais frequentes foram neuropatias diversas e neuralgia pós-herpética. Ainda no Brasil, em um estudo desenvolvido por Kátia Sá e colaboradores, foi mostrado que a prevalência de dor crônica na população de Salvador é de 41%.

No Brasil e em alguns outros países, 10% a 50% da população procuram clínicas gerais por causa da dor. A dor está presente em mais de 70% dos pacientes que buscam os consultórios brasileiros por motivos diversos, sendo a razão de consultas médicas em um terço dos casos.

Dados da literatura mundial mostram a neuralgia do trigêmio com uma prevalência de 2,5% para homens e 5% para mulheres para cada 100 mil habitantes.

DIMENSÕES DA DOR

“A dor é uma experiência...”. Partindo dessa afirmação não é negligência afirmar que sentir dor é algo altamente subjetivo, complexo e depende de uma gama de variáveis multidimensionais. Dentre elas, a nível didático, tem-se a dimensão sensorial-discriminativa, a afetivo-motivacional e a cognitivo-comportamental.

Essa divisão se baseia não somente em dados empíricos, mas também em estudos anatômicos e comportamentais, que mostram que não só o tamanho e a gravidade da lesão têm relações diretas com a dor, mas também o modo como essas pessoas se portam diante dessa dor, a cultura em que elas estão inseridas, suas religiões e crenças e como ela reage à dor.

Diante disso vale a pena citar McCaffrey quando ele diz que “dor é o que o paciente diz ser e existe quando ele diz existir”.

CLASSIFICAÇÃO TEMPORAL DA DOR

Do ponto de vista temporal a Dor pode ser classificada de algumas formas. A IASP classifica como aguda e crônica, onde processos dolorosos que duram mais de três meses são considerados crônicos, abaixo disso são considerados agudos.

CLASSIFICAÇÃO FISIOPATOLÓGICA DA DOR

Sob a óptica da fisiopatologia, a dor pode ser classificada como nociceptiva, neuropática e psicogênica.

TRATAMENTO

Em 1973 foi criada a Associação Internacional para o Estudo da Dor, que estabeleceu um modelo de tratamento interdisciplinar, baseado em suas diretrizes e tido como ideal para tratamento da dor crônica. Apesar de estabelecido como o mais indicado, este tratamento tem difícil aplicabilidade vista a configuração atual da formação dos profissionais de saúde. Este profissional não é estimulado a interagir com outras áreas, o que faz o tratamento ser segmentado, dando-se maior ênfase à patologia, e não ao ser humano em questão.

Para agravar este quadro, o tema algologia pouco é visto pelos estudantes durante sua formação, sendo um tema encarado como uma especialidade que pode ser seguida após a graduação. O que se tem como fruto disso, são profissionais despreparados para atender um paciente com um quadro álgico, fazendo com que desta forma a dor seja sub-diagnosticada e sub-tratada na maioria das vezes.

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